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AS PALAVRAS
Girar em torno delas,
virá-las pela cauda (guinchem, putas)
chicoteá-las,
dar-lhes açucar na boca, às renitentes,
inflá-las, globos, furá-las,
chupar-lhes sangue e medula,
secá-las,
capá-las,
cobri-las, galo galante,
torcer-lhes o gasnete, cozinheiro,
depená-las,
destripá-las, touro,
boi, arrastá-las,
fazer, poeta,
fazer com que engulam todas as suas palavras.
O RIO (fragmento)
À metade do poema sobressalta-me sempre um grande
desamparo,
tudo me abandona,
não há nada ao meu lado, nem sequer esses olhos que
por detrás
contemplam o que escrevo,
não há nada atrás nem adiante, a pena se rebela,
não há começo nem fim, tampouco muro que saltar,
é uma esplanada aberta o poema,
o dito não está dito,
o não dito é indizível (...)
não tenho nada a dizer,
ninguém tem nada a dizer,
nada nem ninguém exceto o sangue (...)
este escrever sobre o já escrito
e repetir a mesma palavra na metade do poema,
sílabas de tempo, letras rotas, gotas de tinta,
sangue que vai e vem e não diz nada e me leva consigo.
(de Estação Violenta, 1948-1958)
PARA O POEMA
I
Palavras, ganâncias de um quarto de hora arrancado à árvore calcinada da linguagem, entre os bons dias e os boas noites, portas de entrada e saída e entrada de um corredor que vai de partealguma a ladoalgum.
Damos voltas e voltas no ventre animal, no ventre mineral, no ventre temporal. Encontrar a saída: o poema.
(de Águia ou Sol, 1949-1950)
4 comentários:
Forte, principalmente o primeiro poema. É a "poesia pela pedra", de João Cabral.
é sim, Mariana; esse é um dos poetas dos quais não consigo me separar, vai e volta estou relendo.
besito
Obrigado pelos textos! Muito bons, o mistério da palavra é infinito.
Abraços, Felipe
obrigada pela visita, Felipe. Vc tem razão, os mistérios da palavra, infinitos e fascinantes.
besito
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