Letramorfoses
sábado, 8 de agosto de 2015
quinta-feira, 7 de março de 2013
Asas do Desejo
O filme Asas do Desejo (do original alemão “Der himmel über
Berlin” que, na tradução literal, seria o céu sobre Berlim), dirigido por Wim
Wenders, é um grande clássico do cinema mundial. Uma obra fundamental no
contexto da dramaturgia alemã, eleita pela revista Times como uma das cem
películas mais importantes de todos os tempos. Embora o enredo se atenha ao
período do pós-guerra, engana-se quem julga que o filme é datado, já que se
vincula a um fato histórico delimitado cronologicamente.
O argumento conta a história de dois anjos invisíveis que
sobrevoam continuamente os céus de Berlim, provavelmente desde tempos
imemoriais. Eles olham e analisam o comportamento dos seres humanos: a angústia
e a desesperança de uma cidade dividida por um muro. A função dos anjos é “escutar”
o desejo, os pensamentos, sentimentos e emoções dos berlinenses, que não sabem
que são observados, ou melhor, percepcionados por essas personagens invisíveis.
São pensamentos que expressam profunda solidão e nostalgia, que remetem ao
abandono e a uma solidão quase concreta em sua densidade.
Um dos anjos, Damiel, está profundamente infeliz com sua
condição angélica, por assim dizer, que, embora brindada com a eternidade, é desincorporada
do mundo que ele percebe tão avidamente. Vale lembrar que perceber, percipere, do latim, significa apreender
pelos sentidos, algo impossível para um ser desencarnado.
O tema central do filme é, justamente, o desejo incorpóreo – que
marca toda a história, exprimindo profundamente a incapacidade de representação
do desejo, cuja condição é falta, a invisibilidade. No filme, como na vida,
aparece como algo flutuante.
Quando Damiel se apaixona pela trapezista, Wenders está falando
do infinito desejando o finito, do transcendental aspirando à materialidade, da
eternidade em busca do que é fugaz, da única narrativa possível: a narrativa da
vida de um homem – ser histórico.
Aí reside a mágica e o segredo do filme: as personagens de As asas
do desejo dizem de nós, do que somos
como seres históricos; nossa vida é uma narração, estamos nos escrevendo à
beira de um passado de mentiras (a história contada pelos vencedores), um
presente que surge como a Berlim do pós-guerra, em ruínas, e um futuro que não
se encarna nunca.
Hoje, além dos anjos, o muro também é invisível, mas tremendo em
sua realidade desincorporada, indestrutível.
Asas do desejo, vale a pena ver, rever, rever, rever...
segunda-feira, 28 de janeiro de 2013
Poesia
poesia não
se apressa não
perde a hora não
usa relógio no
pulso pulsa
no átimo poesia
está sempre por
um triz
quarta-feira, 23 de janeiro de 2013
Sobreviver, renascer
O velho bordão “ano novo, vida nova” é usado por muitos como um mantra, uma expressão mágica com poderes para reinventar a realidade. Mas, no decorrer de janeiro se descobre que a montanha não se abriu ao grito de abracadabra. O ano não é novo, é velhíssimo (velhaco?), traz na cara falsa as cicatrizes de milênios; a sua voz repete, incessantemente: não há nada de novo debaixo do sol.
Por mais que desejemos, o calendário gregoriano – que fatia o tempo em anos, meses, dias e horas – não rege a experiência, não rege o tempo de que somos feitos. Os escravos do mercado e do consumo querem nos convencer a adorar os relógios e o que eles representam. Mas os poetas, ah, os poetas! Eles insistem que a vida não se submete aos calendários.
Eu sei que as marcas do tempo me habitam. Sei que recomeçar é arte da imprecisão, é fruto da árvore do imprevisto. É o contraponto de viver em estado de fotografia, condenada ao mesmo ângulo, à mesma pose, à segurança da mesmice.
Por isso, não importa a minha idade, sou uma criança de peito, acabo de nascer. Aconchegada ao seio da vida, sou sobrevivente do ano que se acabou, fui replantada em 2013 e tenho a esperança de envelhe(SER).
E vocês, leitores, sobreviveram? Se a resposta for sim, feliz você novo!
domingo, 16 de dezembro de 2012
Vivência Literária
Natal com Histórias 2012
Os Amigos da Leitura estiveram realizando o Natal com Histórias, segunda edição, no bairro Terra Nova. Foi uma grande festa da leitura, realizada no sábado, 15/12/2012.
Roda de histórias com adolescentes. Eu contei "A ilha do tesouro" |
Liege - Amiga da Leitura - contando histórias com o tubo mágico |
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terça-feira, 11 de dezembro de 2012
L' Antruido de las palabras
L ANTRUIDO DE LAS PALABRAS
Las palabras agárran-se a las cousas i al tiempo
Bénen de tan longe cargadas de bida i sentido
Que solo se deixan conhecer por música.
Screbir ye poner un maçcarilha que las sconde
I las deixa a drumir asperando quien las diga
Hai palavras culas alas de l sentido cortadas
E quando las dezimos nun son capazes de bolar
Nien nós las entendemos
Porque andamos culhas ne l bolso
Como cachico de bida que quedou agarrado a um retrato.
Las palabras ténen bilhete d'eidentidade
I certidón de nacimiento:
Hai que antrar an casa deilhas ua por ua
Çcubrir l que tén andrento
I stendé-las a la jinela cumo mantas an manhana de San Juan.
O DESFILE DAS PALAVRAS
Las palabras agárran-se a las cousas i al tiempo
Bénen de tan longe cargadas de bida i sentido
Que solo se deixan conhecer por música.
Screbir ye poner un maçcarilha que las sconde
I las deixa a drumir asperando quien las diga
Hai palavras culas alas de l sentido cortadas
E quando las dezimos nun son capazes de bolar
Nien nós las entendemos
Porque andamos culhas ne l bolso
Como cachico de bida que quedou agarrado a um retrato.
Las palabras ténen bilhete d'eidentidade
I certidón de nacimiento:
Hai que antrar an casa deilhas ua por ua
Çcubrir l que tén andrento
I stendé-las a la jinela cumo mantas an manhana de San Juan.
O DESFILE DAS PALAVRAS
Vêm de tão longe carregadas de vida e de sentido
Que só se deixam conhecer por música.
Escrever é pôr uma máscara que as esconde
E as deixa a dormir esperando quem as diga.
Há palavras com as asas do sentido cortadas
E quando as dizemos não somos capazes de voar
Nem nós as entendemos
Porque andamos com elas no bolso
Como cachico de vida que ficou agarrado ao retrato.
As palavras têm bilhete de identidade
E certidão de nascimento
Há que entrar em casa delas uma por uma
Descobrir o que têm dentro
E estendê-las à janela como mantas em manhã de São João.
* Do livro "Cebadeiros", da autoria de Francisco Niebro. Porto: Campo das Letras, 2002
O poema está escrito em Mirandês, dialeto do nordeste de Portugal. A tradução é de João Ferreira.
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