terça-feira, 11 de dezembro de 2012

L' Antruido de las palabras





L ANTRUIDO DE LAS PALABRAS 

Las palabras agárran-se a las cousas i al tiempo 
Bénen de tan longe cargadas de bida i sentido 
Que solo se deixan conhecer por música. 
Screbir ye poner un maçcarilha que las sconde 
 I las deixa a drumir asperando quien las diga 

Hai palavras culas alas de l sentido cortadas 
E quando las dezimos nun son capazes de bolar 
Nien nós las entendemos 
Porque andamos culhas ne l bolso 
Como cachico de bida que quedou agarrado a um retrato. 

Las palabras ténen bilhete d'eidentidade 
I certidón de nacimiento: 
Hai que antrar an casa deilhas ua por ua 
Çcubrir l que tén andrento 
I stendé-las a la jinela cumo mantas an manhana de San Juan. 


O DESFILE DAS PALAVRAS 

As palavras agarram-se às coisas e ao tempo 
Vêm de tão longe carregadas de vida e de sentido 
Que só se deixam conhecer por música. 
Escrever é pôr uma máscara que as esconde 
E as deixa a dormir esperando quem as diga. 
Há palavras com as asas do sentido cortadas 
E quando as dizemos não somos capazes de voar 
Nem nós as entendemos 
Porque andamos com elas no bolso 
Como cachico de vida que ficou agarrado ao retrato. 
As palavras têm bilhete de identidade 
E certidão de nascimento 
Há que entrar em casa delas uma por uma 
Descobrir o que têm dentro 
E estendê-las à janela como mantas em manhã de São João.

 
*  Do livro "Cebadeiros", da autoria de Francisco Niebro. Porto: Campo das Letras, 2002

O poema está escrito em Mirandês, dialeto do nordeste de Portugal.  A tradução é de João Ferreira.

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