domingo, 6 de janeiro de 2008

O ABADE E O FRADEZINHO


Description:
Era uma vez um velho monastério, localizado no centro de um belo e frondoso bosque. Ali viviam muitos frades e cada um deles tinha uma missão diferente. Havia o frade porteiro, o frade cozinheiro, o frade médico, um outro que era jardineiro, um que exercia a função de bibliotecário, outro cuidava da horta; havia frade que dava aulas para os outros frades, frade farmacêutico e... Enfim, havia um frade para cada coisa e coisas a serem feitas por cada frade.
Uma coisa, porém, todos tinham em comum: levavam uma vida de oração e dedicação aos estudos. Como em todos os monastérios, o frade-que-manda era o abade.
Conta-se que o Bispo daquela região ficou sabendo, através de fuxicos do populacho, que o abade era meio tonto e não estava à altura de seu cargo. O Bispo decidiu fazer um teste para comprovar se o falatório do povo tinha algum fundamento. Mandou chamar o abade e propôs a ele três enigmas, dando-lhe um ano de prazo para decifrá-los. Eis os enigmas:
1) Se eu quisesse dar uma volta ao mundo, quanto tempo demoraria?
2) Se eu quisesse vender-me, quanto valeria?
3) Que coisa estou pensando, nesse exato momento, e que não é verdade?
O abade regressou ao monastério e, sentado em sua cadeira de frade-que-manda, começou a pensar, pensar, pensar e pensar... Pensou tanto que de suas orelhas já saia fumaça! Pensar lhe causava fortes dores de cabeça e o pior de tudo é que junto com as dores não surgiam as respostas: quantos mais ele pensava, mais confuso ficava.
Pois olhe que o abade chegou a entrar na biblioteca, pela primeira vez em sua vida, para mexer e remexer nos livros, tentando encontrar a solução dos enigmas. Pensa-que-pensa, e o tempo passando veloz, como é seu costume. Quando faltavam poucos dias para encerrar-se o prazo imposto pelo Bispo, o abade, desesperado, sentou-se debaixo de uma árvore.
Um jovem e humilde frade, cuja função era cuidar das ovelhas do monastério, passava por ali e viu o abade com a cabeça entre os joelhos, com todo jeito de estar angustiado. Aproximou-se, temeroso, pois nunca antes se dirigira ao abade, e perguntou se podia ajudar. O frade-que-manda contou-lhe tudo sobre os enigmas e o fato de não ter encontrado as respostas.
O fradezinho pastor disse a ele que não mais se preocupasse: ele mesmo responderia ao Bispo. Assim, no dia aprazado, apresentou-se diante do Bispo usando as roupas do abade e com a cabeça coberta pelo capucho, para não ser reconhecido.
O Bispo não perdeu tempo com conversa, já foi logo indagando:
- Se eu quisesse dar a volta ao mundo, quanto tempo demoraria?
Respondeu o fradezinho: - Se Vossa Reverendíssima caminhasse depressa como o sol, demoraria apenas vinte e quatro horas.
O Bispo pensou por um segundo e resolveu que a resposta foi satisfatória. Fez a segunda pergunta:
- Se eu quisesse vender-me, quanto valeria?
- Quinze moedas de prata. Respondeu prontamente o fradezinho pastor.
O Bispo olhou-o, intrigado: - Por que quinze moedas?
- Ora, Vossa Reverendíssima não pode desejar ser avaliado em maior conta que Jesus Cristo, que foi vendido por trinta moedas de prata!
O Bispo pensou com seus botões que, afinal, o abade não era tão tolo quanto diziam. Lançou o último enigma:
- Que coisa estou pensando e que não é verdade?
- Vossa Reverendíssima está pensando que sou o abade, mas na verdade sou o frade que cuida das ovelhas.
O Bispo ficou impressionado com a inteligência do jovem frade pastor e decidiu que, dali em diante, ele seria o abade e o frade-que-manda seria pastor de ovelhas.


Ingredients:
Colorin, Colorado! O conto está acabado. Quem quiser ouvir outra vez, feche os olhos e conte até três!

Directions:
Conto popular espanhol, recolhido por Francisco Hidalgo do projeto "Los abuelos Contadores" (Chile). Tradução: Sandra R.S. Baldessin

Imagem: Disponível em: http://jorgetello.blogspot.com/