quarta-feira, 23 de fevereiro de 2005

O quebrador de pedras


Description:
Há muitos anos, vivia na China um jovem chamado Mogo cujo meio de vida era lascar pedra pelas ruas, debaixo de sol e chuva. Seu trabalho era muito cansativo, mas Mogo era são e forte: podia ter sido muito feliz.
No entanto, estava muito descontente com sua sorte e nada mais fazia que queixar-se desde manhã até à noite.
Seu anjo da guarda via com pesar como seu protegido desprezava tudo o que de bom o Senhor lhe havia dado e invejava os que tinham mais que ele, tinha medo que a alma de Mogo se desfigurasse e acabasse por perder-se.
Por isso, uma noite em que o jovem dormia, o anjo estendeu suas grandes asas brancas e elevou-se até o céu. Prosternou-se ante o Senhor e suplicou-lhe que concedesse a Mogo a graça de transformar-se em um poderoso cavaleiro de modo que não tivesse que invejar ninguém e, assim, salvar sua alma.
- Eu o concedo - disse o Senhor. - E de agora em diante Mogo terá tudo o que desejar.
No dia seguinte, Mogo estava entregue a seu trabalho, quando de repente foi envolvido por uma nuvem de poeira levantada por um grupo de cavalos que puxava a carruagem em que viajava um nobre, cujo traje de ouro e pedras preciosas brilhava as sol.
Passando as mãos pelo rosto suarento e sujo, Mogo disse com amargura: - Por que não posso eu ser nobre também?
- Sê-lo-ás! - murmurou seu anjo invisível com imensa alegria.
E Mogo foi dono de um palácio suntuoso e de terras infindas, e teve servidores e cavalos. Costumava sair todos os dias com seu impressionante cortejo para ver como o povo e, especialmente seus antigos companheiros, alinhavam-se respeitosamente à beira da rua.
Numa tarde de verão, percorria o campo com sua escolta. O calor estava insuportável, e debaixo de seu guarda-sol dourado, Mogo transpirava nem mais nem menos do que quando lascava pedras. Pensou então que não era o mais
poderoso do mundo: sobre ele havia príncipes, imperadores, e ainda mais alto que estes estava o sol, que a ninguém obedecia e que era o rei do firmamento.
- Ah, anjo meu! Por que não posso ser o sol? - lamentou-se Mogo. - Pois sê-lo-ás! - exclamou o anjo docemente mas, com uma enorme tristeza, ante tanta ambição.
E Mogo foi sol, como era seu desejo.
Enquanto brilhava no céu em todo seu esplendor orgulhoso de poder amadurecer as colheitas e as frutas na terra, ou queimá-las, a seu bel-prazer. Um ponto negro avançava ao seu encontro. A mancha escura crescia conforme avançava. Era uma grande nuvem que estendia seus escuros véus em torno do disco luminoso do sol. O astro rei lançava seus raios luminosos mais potentes contra a nuvem que o ofuscava, tentando incendiá-la. Mas as trevas fizeram-se cada vez mais densas e a noite desceu. - Anjo! - gritou Mogo - A nuvem é mais forte do que eu! Quero ser nuvem! - Sê-lo-ás! - respondeu o anjo. Mogo, sendo nuvem, desencadeou-se: - Sou poderoso! - gritava, escurecendo o sol. - Sou invencível! - trovejava, perseguindo as ondas. Mas, na costa deserta do oceano erguia-se uma imensa rocha de granito, tão velha como o mundo. E a Mogo parecia que a rocha o desafiava e encadeou
uma terrível tempestade. As ondas, enormes e furiosas, golpeavam a rocha como a querer arrancá-la do solo e atirá-la no fundo do mar. Mas, firme e impassível, ali estava a rocha.
- Anjo! - soluçava Mogo, - a rocha é mais forte que a nuvem! Quero ser rocha. E Mogo foi rocha.
- Quem poderá vencer-me agora? - perguntava a si mesmo.
Certa manhã, Mogo sentiu uma lancetada aguda em suas entranhas de pedra, e em seguida uma dor profunda como se uma parte de seu corpo de granito estivesse sendo dilacerada. Logo ouviu golpes surdos, insistentes, e novamente a dor lancinante... Louco de espanto gritou:
- Alguém está matando-me anjo! Quero ser como ele! - E sê-lo-ás! - exclamou o anjo chorando.
E foi assim que Mogo voltou a lascar pedras.


Ingredients:
Recebi esse conto chinês da querida amiga e contadora de histórias Marília Tresca.

Directions:
Fui ao moinho, moí a farinha
quem quiser que conte a sua
pois eu já contei a minha!

imagem dispónível em: : www.geagea.com/ 11indi/11_13.htm

9 comentários:

Felipe Coelho disse...

Gostei!!!
Cuidado com o que desejas, é uma das conclusões... Outra é, aprende a parar com os teus desejos antes que eles te destruam...
Beijos e obrigado pelo conto.

XXXX YYYY disse...

Não conhecia este conto. É uma lição preciosa.
Grande beijo.

Van Dust disse...

oh santos desejos.
Bonito .Gostei.
Paulo

XXXX YYYY disse...

Felizes os que gostam da vida que têm. Ai, meu Mogo interior: aquieta-se !
Ser humano é...

Sandra Baldessin disse...

queridos amigos, obrigada pela visita e pelos comentários.
besitos

XXXX YYYY disse...

beautiful picture

Sandra Baldessin disse...

thanks for your visit.

Gilberto Uryn disse...

Muito bom!!! E daí me parece muito clara a lição: sempre que a Vida te exigir que quebre pedras, pergunte à Ela onde está o pneumático!!! :))

Beijos

Sandra Baldessin disse...

grande contribuição, Gilberto! Obrigada pela visita, querido.
beso