domingo, 18 de setembro de 2005

Sedna II - A mulher esqueleto


Description:
Esta história também faz parte do ciclo de Sedna.

Ingredients:
Era uma vez um jovem pescador que ficou perdido no oceano por longos dias. Ele era muito destemido e, por conta de sua coragem, acabou chegando com seu caiaque em uma região de águas profundas. Tendo fome, resolveu lançar as se pescar algo para si. Ao puxá-las, sentiu que elas traziam algo grande e pesado. Imaginando tratar-se de um peixe avantajado, puxou com todo o entusiasmo até trazer à tona a horrível visão de uma mulher-esqueleto. Era o corpo de Sedna, comido pelos peixes e deteriorado pela longa permanência nas águas abismais. Apavorado, o pescador pôs-se a remar a toda velocidade. Entretanto, quanto mais rápido remava, mais rápido o esqueleto era arrastado atrás dele, pois os ossos haviam-se enroscado nas redes de pesca. Chegando em terra, o pescador se pôs a correr com quantas pernas tinha. Como levava com ele a rede, a mulher-esqueleto vinha junto, pulando e chacoalhando os ossos. O pescador pulou para sua tenda, achando que ali estaria protegido, e levou um enorme susto ao descobrir que o esqueleto entrara com ele. Conseguindo superar a sensação de pavor, só então o rapaz tomou coragem para olhar com mais atenção a mulher-esqueleto e descobrir que ela só o seguira porque seus ossos descarnados estavam enroscados na rede. Então, pela primeira vez o pescador sentiu compaixão por aquela mulher agora transformada num monte de ossos. Aproximou-se, tomou coragem e começou a desembaraçar os ossos dos fios da rede. Aos poucos, libertou todo os ossos do esqueleto e deitou-os cuidadosamente sobre uma confortável pele de urso. Encerrado o trabalho, e percebendo que nada mais podia fazer por aquele esqueleto que um dia fora uma mulher, foi dormir com uma lágrima a escorrer dos olhos.
Acontece que, depois de dormir um tempo imemorial no fundo do oceano, a mulher-esqueleto sentiu-se confortável e aquecida pela pele de urso. Então ela acordou, viu seu benfeitor a dormir e viu também a lágrima a escorrer-lhe do olho. Como a mulher-esqueleto tinha sede, levantou-se e bebeu a lágrima do pescador. E bebeu muito e muito, porque sua sede vinha de muito longe. Depois percebeu que o pescador fizera comida, e comeu um pouco dela. E como sua fome vinha de muito longe, ela comeu e comeu e comeu, até sentir-se aquecida por dentro. E aos poucos a carne foi de novo cobrindo seus ossos, e seus cabelos cresceram belos outra vez, e seu corpo foi tomando forma. Quando o pescador acordou, descobriu que uma linda mulher dormia a seu lado. Não é preciso dizer que os dois ficaram juntos desde então, e que jamais faltou boa pesca para ele, pois ela sempre sabia lhe dizer onde jogar a rede.


Imagem: Sedna - obra de Raine Walker.

Directions:
"Tudo que existe conta"

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