sábado, 4 de setembro de 2004

Est�vamos todos l�



Por virtudes da mem�ria, esse software sofisticado que instalaram em nosso c�rebro, ou por quaisquer outras artimanhas, o fato � que me lembrei de minha av�, dizendo como nunca mais esquecera a roupa que vestia e o que estava fazendo, no momento em que ouvira pelo r�dio as terr�veis novas sobre Hiroshima. N�o tinha essa coisa de via sat�lite, n�o, que permite ao cidad�o assistir o massacre dos seus semelhantes, confortavelmente instalado na poltrona da sala, �beliscando� uns petiscos e tomando uma cervejinha gelada.
Abuelita, como a cham�vamos, n�o sabia nem nunca soube nada sobre a fiss�o do �tomo; mas sempre soube tudo sobre a irmandade dos homens, por isso, ao descrever o acontecido naquela cidadezinha da qual antes nunca ouvira falar, ela dizia: �� como se eu estivesse l�.�
Pois foi disso que me lembrei, no momento em que a televis�o come�ou a veicular as imagens do horror de Beslan. E nunca antes o dito de minha av� teve um significado t�o penetrante. Vivenciando um momento de aguda percep��o, tive a certeza de que realmente est�vamos todos l�.
A dor de um homem � a dor de todos os homens, atrav�s de todos os s�culos, ultrapassando as barreiras de tempo e espa�o. Est�vamos todos l�. Nos campos de concentra��o nazistas, em Hiroshima, em Ruanda, kossovo, na Arm�nia e, agora, em Beslan. Cada qual transubstanciado no seu semelhante.
A reflex�o sobre esses fatos desdobrou-se num questionamento que partilho com os leitores: a igualdade s� � poss�vel na dor? Parecem-me t�o unas, as m�es israelitas e �rabes que choram por seus filhos, as m�es brasileiras cujos filhos foram atingidos por balas perdidas, as m�es de Beslan... T�o irmanadas na perda, na aus�ncia de explica��es para o cotidiano tr�gico! Ser� que o humano se auto-engendra nos momentos de aniquila��o?
Eu n�o tenho respostas, sou do tipo que prefere as perguntas. Tamb�m n�o cultivo certezas, a n�o ser as certezas at�vicas, aquelas impressas no DNA da ra�a. Nesse sentido, estou certa que, no plano da iman�ncia, no qual vivemos, somos indivis�veis. Ningu�m precisa pregar a globaliza��o da dor: n�s a conhecemos desde sempre.
Onde n�o h� consolo poss�vel, que haja, pelo menos, poesia: eu quero o humano toque daqueles que latejam como eu!

Um comentário:

S. Quimas Brasil disse...

Li os seus textos e poemas. Gostei muito.
Se voc� quiser estamos aceitando novos colaboradores para o site Gera��o Bendita.Com
Seria um prazer publicar seus escritos.
Aquela poesia Sherazade me encantou.
Um grande abra�o.
S. Quimas