domingo, 16 de outubro de 2005

Literatura e Educação

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Recentemente, participei de uma palestra sobre educação não-formal, mesmo porque estou envolvida em alguns projetos que valorizam essa proposta. Embora o tema tenha sido abordado de forma mais geral, acredito que cada ouvinte aplicou o ensinamento à sua área de atuação. No meu caso, colaborou para reforçar algumas idéias sobre as quais tenho refletido, relacionadas ao dueto (que muitas vezes se transforma em duelo) Literatura e Educação.
É inquestionável que a escola tem um papel essencial na formação do aluno-leitor, entretanto, no contexto da rotina educacional muitas vezes assistimos aquilo que os pesquisadores da área chamam “didática da destruição da leitura”, que ocorre quando esta é entendida, apenas, como uma espécie de ponte para a verdadeira necessidade, que seria estudar, menosprezando o diferencial de qualidade representado pelo ensino precoce da Literatura.
Pensar essa problemática se torna fundamental quando nos deparamos com algumas estatísticas, como por exemplo, aquelas publicadas no documento Retrato da Leitura no Brasil (2004); segundo a pesquisa, apenas 15% dos quase 180 milhões de brasileiros podem ser considerados, de fato, leitores. O mesmo documento relata que apenas um em cada quatro brasileiros consegue entender totalmente as informações de textos mais longos e relacioná-las com outros dados. De acordo com este levantamento, aproximadamente 40% dos brasileiros podem ser considerados analfabetos funcionais, isto é, pessoas que não conseguem utilizar a leitura e a escrita na vida cotidiana!
A presença do texto literário na escola precisa ser repensada; esse texto não pode ser utilizado somente como objeto útil ao ensino da gramática e mediador dos exercícios de interpretação, mas, como objeto estético cuja mágica tem potencial para reencantar o ambiente educacional. Utilizado de forma mais lúdica, o texto literário certamente cumprirá, também, o papel de facilitador do ensino da Língua Portuguesa e das demais disciplinas.
O enfoque estético do texto literário, objetivando melhorar a competência em leitura, tem sido muito utilizado em programas de educação não-formal – oficinas de formação de leitores e de contação de histórias - que, infelizmente, não são acessíveis à população que mais necessita deles. Assim, faz-se necessário que a escola, principalmente a escola pública, abrace esse desafio, promovendo o encontro prazeroso entre a Literatura e as crianças e jovens.
A escola e a literatura possuem caráter formativo; se a relação entre ambas ocorrer de forma mais harmoniosa, e menos utilitária no que se refere à concretização dos supostos objetivos escolares, quem sabe teremos a possibilidade de vencer o analfabetismo funcional através do gosto pela leitura. Afinal, gosto se aprende e o que se aprende se ensina.

Sandra B.

2 comentários:

Tate Fish disse...

É verdade. E se pensarmos ainda que a grande maioria desses "não leitores" estão nas camadas menos favorecidas da sociedade, o peso da responsabilidade recai todo sobre a Escola já que, nesses casos, a família pouco ou nada pode fazer para contribuir.

Sandra Baldessin disse...

Sim, Tate, a Escola tem que ser repensada, sob esse aspecto.
besito, amiga