sábado, 29 de outubro de 2005

Dia Nacional do Livro

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Hoje é o Dia Nacional do Livro. Uma data que deveria ser comemorada de forma abrangente, envolvendo profissionais de todas as áreas. Sim, pois os livros são ferramentas de disseminação do conhecimento sob suas mais variadas formas.
Se a escritura surge como um meio de transmissão da informação, a leitura se configura como a mediadora da aquisição dessa mesma informação, do conhecimento. Nesse caso, a leitura é um ato social, e, como tal, é uma questão pública das mais importantes.
Falar em livros é falar em leitura e leitores. Quando pensamos na origem da palavra ler, temos, no grego, a expressão legei, significando colher, recolher, juntar; a palavra em latim foi grafada como lego, legis, legere, cujo sentido exprime a plenitude da leitura: juntar as coisas com o olhar. Nada mais verdadeiro!
Gostaria que hoje, no Dia Nacional do Livro, tivéssemos motivos para celebração, mas, o que não nos faltam são motivos para reflexão. No Brasil há pelo menos 35 milhões de analfabetos funcionais, pessoas para as quais o livro não faz sentido; há, ainda, muitos outros que não tem acesso ao livro, à informação escrita, conforme pode ser observado pela distribuição regional das bibliotecas públicas no país: 21% na região sul; 10% na região centro-oeste; 39% na região sudeste; e 30% na região norte e nordeste. Bibliotecas públicas conectadas à internet só aparecem nas regiões Sul e Sudeste. Dentre essas bibliotecas, é preciso ressaltar, a grande maioria não tem o acervo atualizado, sobrevivem em condições precárias, mantidas por orçamentos ridículos. Fazendo as contas, no Brasil há apenas uma biblioteca deficiente para cada 36.000 brasileiros!
Particularmente, já não acredito que haja interesse do governo em reverter essa situação; relembro as campanhas que vêm sendo realizadas, desde o governo Fernando Henrique até a atual Fome de Livro (com a pretensão de implantar um milhão de bibliotecas públicas até 2006) e observo que, efetivamente, nada mudou.
Teimo em ter esperança. Formar leitores é uma espécie de discipulado. Quem sabe, se cada leitor apaixonado chamasse a si a tarefa de motivar e formar outro leitor através da sua própria vivência em leitura não obtivéssemos bons resultados? É um trabalho de formiguinhas, mas, pode se revelar mais eficaz do que as campanhas de massa.
O livro é um objeto social, portanto, tem função ideológica, mas, essa função só se cumpre quando ocorre a interação livro/público, à parte disso, já não faz sentido. Termino recordando Castro Alves e seu belo poema O Livro e a América:

“Por isso na impaciência
Desta sede de saber,
Como as aves do deserto --
As almas buscam beber...
Oh! Bendito o que semeia
Livros... livros à mão cheia...
E manda o povo pensar!
O livro caindo n'alma
É germe -- que faz a palma,
É chuva -- que faz o mar.




6 comentários:

Eliana Mora disse...

Muito bem lembrado, e 'fechado' - o poema é lindo, como o era Castro Alves, poeta em cada rincão do ser.

beso,
El

Sandra Baldessin disse...

oi El, obrigada pela visita e comentário.
besito, amiga

Adair CJ. disse...

esta realidade é triste, Sandra. Dentre outras...

bjao

Sandra Baldessin disse...

nem me diga, poeta...
besitos

Tate Fish disse...

E as poucas ações que temos visto no sentido de socializar o livro partem de pessoas humildes, quase sem condições...
Quero chuva, muita chuva!

Sandra Baldessin disse...

é por isso que digo que é um trabalho de forminguinhas - sim, é preciso chuva.