quarta-feira, 15 de junho de 2005

Vossas Excelências que se...


Trabalhando numa pesquisa acerca dos usos e costumes vigentes nas antigas monarquias européias, deparei-me, casualmente, com a descrição minuciosa das medidas adotadas nas circunstâncias em que funcionários do governo (vamos chamá-los assim) fossem surpreendidos em atos explícitos de corrupção.


Cativou-me particularmente a atenção o fato de que incompetência por parte dos mesmos era considerada corrupção passiva. Há uma lista interminável de “procedimentos” que se reuniam sob o rótulo de corrupção, os quais não vejo necessidade de citar; qualquer indivíduo que lê jornais regularmente sabe do que se trata.


Em alguns desses reinos e principados, qualquer cidadão possuía a divina liberdade de apresentar queixa ao tribunal competente contra o tal corrupto. E o melhor: o julgamento do sujeito se realizava publicamente, não enre os seus pares.


Porém, o que literalmente me deliciou, foi a quantidade de punições, todas muito criativas, às quais o corrupto estava sujeito. Desde uma mera advertência até um pedido público de desculpas, passando por pagamentos de multas e indenizações e, pasmem, uma categoria de punição denominada  “humilhação física”. 


A humilhação física consistia em que o cidadão lesado, aproximando-se do corrupto em questão, cuspia-lhe na cara, demonstrando todo seu desprezo; quanto maior o número de cidadãos lesados, maior a carga de cusparadas. Não havia empáfia que resistisse ao tratamento! 


Numa sociedade na qual todos eram considerados culpados até que conseguissem provar o contrário, torna-se fácil compreender porquê quase ninguém almejava um emprego público, a contratação chegava a ser compulsória. 


Hoje, inversamente, somos todos inocentes perante a Lei. Vai daí que...deputados, senadores, ministros, juízes e inclusive presidentes da república praticam o cinismo impunemente.  E todo o mundo anda atrás de um “cargo”, de um apadrinhamento, porque vale tudo no feirão do poder, até mesmo comprar votos dos supostos aliados!          Certamente, não defendo uma volta à barbárie. Acredito nas conquistas da Comissão de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas. Principalmente, na premissa que afirma que todos os homens são iguais perante a Lei. Infelizmente, na prática, a teoria é outra. Temos assistido ao exercício de uma democracia amoral, ou, como definia Mencken – o jornalista mestre da ironia – temos assistido a “administração do circo a partir da jaula dos macacos”.  


 


Sandra R. S. Baldessin


               


 


 

11 comentários:

AluiZio Derizans disse...

"temos assistido a “administração do circo a partir da jaula dos macacos”.

E é o que estamos vendo neste exato momento aqui neste nosso Brasil

XXXX YYYY disse...

Mas uns são mais iguais que os outros, não é?
;-)

AluiZio Derizans disse...

Ou alguns são mais outros que os iguais!!!

Seja lá o que isto pode significar!!!

Eliana Mora disse...

assistimos e nos revoltamos e nos deprimimos; nossa vida fica atrapalhada; eles não têm problemas de dinheiro.

beijos

Nelson :-P disse...

Já imaginou esse castigo lá em Brasília? Ia faltar garganta prá tanto cuspe!

Sandra Baldessin disse...

é isso aí pessoal, tá muito difícil engolir v. excelências; nas palavras de um dos deputados, essa turma já ganhou o "Oscar da deslavadez" - o pior é que nem a própria língua eles sabem falar...

XXXX YYYY disse...

Na veia!
Matou a charada, Aluizio.

XXXX YYYY disse...

Parabéns, Sandra!!!!!

Jose Liborio disse...

Eu defendo a volta das galés!!!!

Falando sério, eu acredito que a Administração Pública deveria ser um pouco mais bem tratada através de reformas e transparência para que toda a sociedade consiga fiscalizar.. Enquanto tudo ficar no papel, será uma corrupção de dar gosto!!!

Sandra Baldessin disse...

oi Lédio, obrigada, amigo.
besito

Sandra Baldessin disse...

as galés! bela lembrança Jose...
é verdade, eu também acredito que nesse imenso país falta auditoria.