segunda-feira, 18 de abril de 2005

Dia do Índio

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Crônica e poema do meu amigo Jaime Leitão.

IRONIA OU HIPOCRISIA?

Ontem, véspera do Dia do Índio, que se comemora hoje, a FUNAI (Fundação Nacional do Índio) homenageou em Brasília 24 líderes indígenas. Enquanto isso, não param de morrer crianças indígenas, principalmente na faixa de um a cinco anos, em Mato Grosso do Sul, por desnutrição. A 19a morreu no sábado passado.
No mês de março, quando já haviam morrido 7 crianças, o senador do PT Delcídio do Amaral afirmou, estarrecido: “Não é confinamento. Onde eles vivem é um campo de concentração”, comparando a situação dos índios com o genocídio dos judeus pelos nazistas.
A ironia começa pelo fato de o governador de Mato Grosso do Sul ser o Zeca do PT. E aumenta quando nos lembramos que a marca do governo Lula do PT foi justamente o “Fome Zero”.
Será que o governo não poderia ter colocado em prática algum plano de emergência para conter a fome na reserva indígena, logo quando surgiram as primeiras mortes, para que a situação não chegasse a essa situação desesperadora?
Um pai perdeu dois filhos em um mês e afirmou que a causa das mortes não é nenhuma doença endêmica ou epidêmica, mas a fome. Ele disse que há vários dias não têm comida em casa. Sobreviver como dessa maneira?
Os índios confinados, presos em uma reserva, deveriam ser pelo menos alimentados. Não têm eles o direito de ir e vir, estão numa espécie de campo de concentração, como afirma o senador do PT, e nada é feito para reverter a miséria, a desnutrição e evitar as mortes iminentes.
A Funai, que deveria zelar pela saúde dos índios, não recebe praticamente recursos para isso. É um órgão que não funciona porque a equipe econômica não libera verbas para que ela tenha condições de suprir as necessidades mínimas dos indígenas.
Como entender que o índio ,que sempre viveu da terra e que a conhece como ninguém, não tenha acesso ao milho, ao feijão, ao arroz, para plantar e continuar se mantendo com o essencial, já que não precisa mais do que isso para sobreviver?
É trágico e ao mesmo tempo vergonhoso assistir à impassibilidade desse governo, que sempre utilizou o combate à fome como marca de campanha, diante das mortes dessas crianças, sem que haja um sinal concreto de transformação dessa realidade.
Hoje, Dia Nacional do Índio, em muitos lugares serão feitas homenagens a eles, homenagens justas, mas que se tornam profundamente irônicas, hipócritas, diante da omissão do governo e da sociedade, que lêem as notícias das mortes dessas crianças indígenas como mais um dado estatístico entre tantos.
19 crianças já morreram em Mato Grosso do Sul nos últimos meses. Quantas mais morrerão para que o governo coloque a mão no bolso e evite que outras tantas mortes aconteçam?
Não há desculpa possível para justificar essas mortes.

Requiem para o índio no dia dele

No Dia do Índio
meninas e meninos
índios
morrem de desnutrição.

No Dia do Índio...
Que dia é esse
se a morte
foi tecida
pela sociedade
e pelo governo
para lembrá-lo
só como um símbolo?

Criança
não quer ser símbolo de nada.
Tem fome
e direito ao alimento.
Dezenove crianças indígenas
já morreram
de desnutrição
em Mato Grosso do Sul.

Cruel ironia.
Hoje, 19, é dia do Índio.
De que índio?
Dos que morreram
até hoje
massacrados pela fome
a violência
e o descaso?
Ou dos que sobrevivem
duramente
desesperadamente
até a miséria
e a gula
dos que governam
os engolir
i m p i e d o s a m e n t e?

Hoje é Dia do Índio.
Não, hoje, como sempre,
é dia de quem trata
o índio
como se fosse uma lenda,
um mito.

Hoje é dia de quem não está
nem aí
para o índio.

Hoje é o dia
de nos lembrarmos
daqueles
que canibalizam
e canibalizaram
o índio.


2 comentários:

XXXX YYYY disse...

Denúncia muito séria. É bem surreal mesmo, tudo isso.

"...agora ele só tem o dia 19 de abril".

Despudorada Alma Malmal disse...

sempre triste, o esquecimento e o descaso....gostaria de poder fazer algo.

alma