sábado, 5 de março de 2005

Olha só quem está apitando!*


Está se aproximando o dia 8 de março, data em que comemoramos o Dia Internacional da Mulher. O simbolismo dessa comemoração continua sendo muito necessário: em nossa sociedade ainda prevalecem muitas formas de discriminação contra a mulher, isso tornou-se bastante claro essa semana.
Não sou nenhuma especialista em matéria de futebol, mas, ficou nítida a postura, no mínimo desagradável, que assumiram aqueles que criticaram a atuação da árbitra de futebol Sílvia Regina de Oliveira, que apitou o clássico São Paulo e Corinthians, domingo no Morumbi. Teve treinador com a cara de pau suficiente para dizer que as mulheres não tem a mesma capacidade física que os árbitros homens.
A competência da árbitra poderia ser questionada sob muitos outros aspectos, e não necessariamente através dessa conotação; o fato é que o preparo profissional de Sílvia Regina é inquestionável: ela atua na arbitragem, desde 1980 e foi escolhida para representar o Brasil no 1º. Workshop de Arbitragem de Futebol Feminino, que se realizará entre os dias 7 e 15 de março, em Portugal.
Entretanto, os que insistiram que uma mulher não tem condicionamento físico para correr e acompanhar as jogadas dos craques de perto não puderam sustentar seus argumentos: os árbitros são monitorados via satélite e, assim, ficou comprovado que Sílvia mostrou o mesmo desempenho que árbitros do sexo masculino.
O que podemos deduzir? Que, infelizmente, ainda existem muitas áreas onde preferem que as mulheres “não apitem”. Que ainda subsiste, mesmo enfraquecido, o conceito de sexo frágil, segundo o qual as inegáveis diferenças biológicas entre homens e mulheres influenciariam as habilidades e capacidades físicas e intelectuais dos mesmos.
Durante séculos, uma falsa imagem da mulher como ser instável e débil predominou na sociedade, impondo limites à atuação feminina e à sua presença na cena pública. Nunca é demais recordar que, às duras penas, conquistamos nosso espaço nas ciências, na política, na medicina, na filosofia, áreas nas quais a intervenção feminina sempre foi muito restrita.
Hoje, as mulheres têm se destacado na área científica e, embora apenas 10% dos quadros da Academia Brasileira de Ciências seja composto por elas, somente mulheres foram contempladas com o prêmio Jovem Cientista 2004, o que dá uma dica sobre o futuro feminino da ciência brasileira.
O dia 8 de março é uma data simbólica da luta da mulher pela emancipação, pelo reconhecimento e contra a discriminação. Um bom dia para lembrarmos que mulher apita sim, inclusive dentro dos campos de futebol!

Sandra R. S. Baldessin


*Publicado originalmente no Jornal Cidade de Rio Claro. 04/03/05
Imagem: Sílvia Regina de Oliveira. Disponível em: http://www.sfcup.com/images/symposium_04_sylvia.jpg

13 comentários:

Claudio "CAlex" Fagundes disse...

Sabe o que ganhou na enquete do jornal Lance:
"Se a juiza tiver coxas bonitas e usar short curtinho, pode apitar".

Sandra Baldessin disse...

é? eu não sabia disso, senão teria colocado no artigo. isso é irritante demais, não porque eu acredite que as coxas bonitas não tenham valor, mas pela forma reducionista como colocam a questão... mas, fazer o quê? se as coxas bonitas aceitam o tratamento de "cachorra" e "eguinha"?

Eliana Mora disse...

O importante é o fato - e as palavras das pessoas ainda não acostumadas com ele - terminam por esvoaçar-se com o vento.
Obrigada, San

[e muitos besos

Sandra Baldessin disse...

ah, Elpoeta, adoro ver teu "retratinho" aqui no meu sítio! concordo: o que conta é o fato.
besito

XXXX YYYY disse...

Sandra,

A Sílvia Regina é uma árbitra regular, mas acima da média dos árbitros marmanjos. Boa mesmo é a auxiliar (bandeirinha) Ana Paula, que na minha opinião é, na atualidade, o(a) melhor auxiliar de arbitragem do mundo.
O choro da cartolagem é comum, só ganhou proporções porque escorregou para o machismo, é lamentável sim, mas é o retrato da nossa sociedade e acho que se deve festejar o fato de que atualmente existem mulheres apitando jogos dos torneios masculinos, uma conquista recente e irreversível.

Grande beijo.

Sandra Baldessin disse...

obrigada pela visita e pelo comentário, Fred. Eu gosto de futebol e conheço a
Ana Paula, ela é ótima, mesmo. Você acertou: o problema não é a cartolagem resmungona: mas a conotação machista, explícita.
besito, poeta.

Claudio "CAlex" Fagundes disse...

Hehe... e Ana Paula tem belas coxas!

Sandra Baldessin disse...

não seja por isso, que de boas coxas o futebol está cheio e não necessariamente depiladas... mas o desempenho profissional tem que ser questionado tecnicamente, concorda?

Claudio "CAlex" Fagundes disse...

Eu vi o jogo e não ache que a árbitra tenha errado tanto para merecer a crítica do Tite (foi ele que disse a besteira: não é um cartola, é um técnico!).

Um dos programa que assisto com frequencia é a mesa-redonda Linha de Passe, na ESPN Brasil. Todos foram unânimes em dizer: o Tite poderia ter ido embora do corinthians sem esse comentário infeliz no currículo.

Eu acho que as árbiras e bandeiras são ótimas, em geral. piores são os juízes semi-analfabetos da federação carioca. E juízes que são claramente homossexuais e usam isso para perseguir os atletas, sem conseguir a neutralidade que um árbitro necessita ter.

Claudio "CAlex" Fagundes disse...

Mas que tem belas coxas, a Ana Paula tem! Eu prefiro elas às cabeludas!

Eu não vejo porque seríamos mais severos com as árbitras do que com os árbitros.

Sandra Baldessin disse...

é, eu já ouvi um amigo relatando isso...
O Tite, infelizmente, pisou feio na bola. Na verdade, pra Sílvia foi bom: publicidade numa hora estratégica. Como dizia minha abuela: "há males que vem para o bem"

Ana Vivas disse...

Sandra
e devagar as mulheres estão mostrando o seu valor, mostando e tomando o lugar que PODE também ser delas e não só deles.
só espero que o lado machista de muito homem interprete bem o fato e veja que a mulher também precisa ter um lugar ao sul
anavivas

Sandra Baldessin disse...

com certeza Ana. obrigada pela leitura
besito.