sábado, 5 de março de 2005

MAX MARTINS - poeta paraense

Rating:★★★★★
Category:Other
Ofereço a vocês um dos meus poemas preferidos de Max Martins



A FERA

Das cavernas do sono das palavras, dentre
os lábios confortáveis de um poema lido
e já sabido
voltas
para ela - para a terra
maleável e amante. Dela
de novo te aproximas
e de novo a enlaças firme sobre o lago
do diálogo, moldas
novo destino
Firme penetra e cresce a aproximação conjunta
E ocupa um centro: A morte, a fera
da vida
te lambendo


Sabemos muito pouco sobre os nossos poetas! Esse poeta paraense é dos mais instigantes, vale a leitura, vale a reflexão. Olhem a biografia, dispoinível em: www.culturapara.com.br

Max Martins nasceu em Belém do Pará em 1926. Exerceu cargos públicos até o momento de sua aposentadoria, a qual o Inamps incorporou outra: a de escritor, obtida há alguns anos e transformada, de imediato, no primeiro caso de escritor que se aposenta e recebe benefícios por ter exercido, por mais de trinta anos, a poesia. Hoje é diretor de um núcleo de cursos na área de linguagem verbal, aberto a estudantes de nível médio, universitários e interessados na literatura de um modo geral, conhecido como Casa da Linguagem.

Lançou seu primeiro livro, O Estranho, em 1952 (edição do autor). Desta edição muitos exemplares se perderam, pois o resultado da impressão, muito precária, àquela época, não tendo agradado ao poeta, deveria ter sido jogada fora, a seu pedido. Porém o garoto encarregado da tarefa, penalizado, deixou alguns exemplares nas soleiras dos casarões por onde passara a caminho do incinerador público, contrariando assim a ordem expressa do poeta. Graças a esse fato, O Estranho conheceu uma repercussão a posteriori, por ocasião das doações de acervo das grandes famílias de Belém a bibliotecas de universidades e instituições.

O Estranho refletia a percepção, mesmo que tardia, do modernismo, principalmente da musicalidade de Cecília Meireles, e do coloquialismo estilizado de Carlos Drummond de Andrade em Alguma Poesia, bem como do livro O Homem e sua Hora, de Mário Faustino ("O pão dos sábados/E as aventuras de Mário e Juvenal/Já não te comoverão/Na tristíssima volta ao lar paterno").

Em Anti-retrato (1960), nota-se a evolução para o trato com temas que se tornariam recorrentes em seus poemas - evolução essa impulsionada, de resto, pela aproximação entre as formas de construção da prosa e da poesia postulada por Faustino em seus estudos sobre poética. ("Já é tudo pedra/os dias, os desenganos./Rios secaram neste rosto, casca/de barro, areia causticante").

Este projeto de escrita vai se aperfeiçoar uma década depois em H'Era (1971) com, entre outros fatos, a declaração expressa em seus poemas da preferência por autores nacionais como Drummond, Jorge de Lima e Guimarães Rosa, e por estrangeiros como Dylan Thomas, William Alden e Henry Miller. ("Palavras famintas pedem bis, e o X/de Hamlet e Henry Miller me visava;/velhas rezavam, se revezavam/em cantos, panos, palinódias").

Em O Risco Subscrito (1976), os poemas de Max Martins ganham um tom mais universalizante, ¡á anunciado no livro anterior. Aqui, a preocupação com a linguagem se torna o próprio assunto do poema; o ritmo bem marcado delimita agora uma nova relação formal com o espaço em branco da página. 0 que Benedito Nunes, na apresentação da obra, chama de "ensaio de espacialismo", principalmente em O Ovo filosófico:


"o olho
do ovo
----------
o ovo
do olho".

Em Caminho de Marahu (1983), a opção pelos temas eróticos transforma-se em um objeto de pesquisa e crítica pata o poeta. A influência de João Cabral e dos movimentos de vanguarda, como a poesia concreta e o poemaprocesso, redunda em um certo estranhamento da linguagem dos textos, que associam a natureza da pesquisa de linguagem à natureza do desejo sexual: "O branco apaga tudo - as cores deste gozo/E o próprio gozo/neste poço/ cala/o som da água".

Para Edilberto Coutinho (O Globo,l 9/fev./1984), "Max Martins se revela, neste Caminho de Marahu, além de poeta, um pesquisador e crítico, na linguagem de Décio Pignatari e dos irmãos Campos, (...) com seus parâmetros mais remotos (dentro da modernidade) em Mallarmé - por exemplo - ou, mais recentemente e de forma mais ostensiva, em Ezra Pound".

Um livro-folder, ou um livro-pôster, assim era 60/35 em sua primeira edição, em 1986. Os dezoito poemas que o compõem parecem confirmar as imagens utilizadas em seus livros anteriores. Como diz o verso de Edmond Jabès, que serve de mote para o autor, "tu és aquele que escreve e que é escrito". Nestes poemas percebem-se decisões quase sólidas na construção dos versos ("Escrevo duro/escrevo escuro'). Característica que constitui sua diferença quando comparados a Marahu, onde, ao mesmo tempo que retorna a temas e imagens anteriores, parece cair em um pessimismo absoluto da linguagem ("Ponho na tua boca as cinzas/da minha insígnia"). Marahu encerra, cronologicamente, a lista dos livros reunidos em Não Para Consolar (1992).


6 comentários:

XXXX YYYY disse...

LINDO!

Beijos!
;o*

Sandra Baldessin disse...

é divino, mesmo, não?
Visite o sítio que eu indiquei, não vai se arrepender.
Essa expressão: "A morte - fera da vida te lambendo" é esplêndida.
besito, Yeso.

XXXX YYYY disse...

muiiiito bom, obrigada pela apresentação.

bijo

malmal

Sandra Baldessin disse...

obrigada, amiga.

Maria Helena Barata disse...

Muito bom que você está divulgando meu querido poeta Max Martins. Sua obra ainda permanece desconhecida para o Brasil. Um abraço

carlos mauricio disse...

adoro o max e é bom saber q não sou o unico... meu email mauricio_mauva@hotmail.com me mande emails para conversarmos sobre o max martins ...