domingo, 23 de janeiro de 2005

A mente seletiva

Rating:★★★★
Category:Books
Genre: Nonfiction
Author:Geoffrey Miller
Pequeno ensaio sobre a preservação da espécie

Em sua obra “Metafísica do amor - Metafísica da morte”, (tradução de Jair Barboza) publicada em 1.844, Arthur Schopenhauer aborda questões que, atualmente, tem sido exaustivamente estudadas pela Psicologia Evolutiva.
O fascinante na obra de Schopenhauer é a análise realista que faz acerca do sentimento do amor, principalmente se considerarmos que os seus contemporâneos contribuíram grandemente para a deificação do amor romântico e os poetas de sua época o descreviam como a razão e o auge da existência humana.
Embora sem o respaldo científico para comprovar empiricamente as suas teorias, Schopenhauer defendia que, para compreender o amor convém, sobretudo, partir do fato irrefutável de que todo ato de apaixonar-se está fundamentado no amor sexual: Geschlechtsliebe - o título alemão da obra. O agente desencadeante desse amor seria um impulso que não se encontra no domínio da consciência representativa do sujeito.
Significando que nossas escolhas amorosas não seriam definidas com base no discernimento crítico, sendo, antes, conduzidas por um instinto que excederia a racionalidade. Seguindo essa reflexão, Schopenhauer afirma: “o que se decide no amor é a composição da próxima geração.”
Ou seja, o que ocorre é a manipulação do indivíduo em prol da preservação da espécie! Quanto maior a paixão amorosa movida por esse poderosíssimo impulso de perpetuação da espécie, maior a desilusão que se segue.
Hoje, com tantos cientistas empenhados em comprovar a dita teoria, a nós, infelizes sujeitos pós-modernos, não restou sequer a possibilidade de iludir-nos. Explico. Sabemos que todo o jogo da sedução é fruto da seleção sexual. Pareço cínica aos meus delicados leitores? Serei mais ainda.
Em seu livro, “A Mente Seletiva”, Geoffrey Miller defende que a seleção sexual alicerça até mesmo o desenvolvimento da cultura humana, em toda a sua complexidade. Partindo do princípio de que a reprodução é o instinto básico em todos os seres, Miller acredita que todas as formas de manifestação artística não passam de “estratégias reprodutivas”.
Escrevemos poemas, compomos sinfonias, pintamos quadros, cantamos, com a mesma finalidade cabal que movia nossos ancestrais a se destacarem como caçadores: atrair parceiros sexuais. Nesse sentido, a nossa cultura estaria fortemente vinculada à nossa evolução biológica.
O moderníssimo livro de Miller, não sei por quais circuitos cerebrais, remeteu-me ao eterno Schopenhauer, fazendo-me refletir sobre o caráter arcaico das nossas ações, dos nossos gestos, do nosso discurso.
Resumindo, desde 1.844 até os nossos dias, tem muita gente “gastando o latim” tentando esclarecer porquê todo mundo só “pensa naquilo”. Aliás, por que eu escrevi essa crônica, mesmo?

Sandra R. S. Baldessin

5 comentários:

XXXX YYYY disse...

Excelente artigo, Sandra. A relaçao que vc estabelece entre Millher e Schopenhauer é muito bem sacada.
Não conheço a obra do Geoffrey Miller, mas fiquei interessadíssimo. A análise dele é perfeita.
Eu me vi ali. hahahaha

Sandra Baldessin disse...

legal que vc gostou, Joze; vale a pena ler, olha as indicações:
A Mente Seletiva: Como a escolha sexual influencia a evolução
da natureza humana. Geoffrey Miller. Rio de Janeiro: Campus, 2000.

Se eu não me engano estava esgotado, mas não tenho certeza.

XXXX YYYY disse...

Obrigado, Sandra. Vou ver se consigo.

Sônia ... disse...

É este?
huahua Porque será que só se pensa "naquilo"???
Bahhh! Se é assim, tudo o que eu ando pintando, escrevendo, cantando e bordando na net...vai me render uma turba de candidatos???
Vixi! Vou ter que distribuir senhas!
E como explicar que nao pretendo mais reproduzir hihihi tenho meu Biel já.
Brincadeiras a parte, gostei do texto...sabe que no fundo no fundo nao deixa de ser uma verdade.
bjos

Sandra Baldessin disse...

OLha, Anja, eu acho que não dá para analisar só pela vertente da biologia evolutiva, porque nós somos famintos de significados e o tempo todo estamos produzindo novos signos. Por outro lado, eu tenho uma viosão erotizada da vida, acredito que o desejo é a grande mola propulsora da humanidade; sob o ponto de vista fisiológico, bem, no cérebro, no hipotálamo, as áreas responsáveis por criatividade e sexualidade se interpenetram... vamos ver se os biólogos evolutivos conseguem provar os próprios pontos de vista.
um abraço.