sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Pra que tantas bibliotecas?

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Pois é, deve ter sido essa a pergunta que o prefeito de São Paulo, Gilberto kassab (DEM) fez a si mesmo, ou aos seus "aspones", antes de assinar o decreto 49.172, que extinguiu quatro tradicionais bibliotecas públicas, presentes na capital do estado. Nesse triste obituário constam os seguintes nomes:

- Biblioteca Infanto-juvenil Chácara do Castelo, transformada em Centro de Conservação de Acervo; atenção: é pra conservar, não pra democratizar.
- Biblioteca Infanto-juvenil Arnaldo de Magalhães Giácomo, que, com uma só canetada, virou Centro de Apoio Educacional: engraçado, não é para isso mesmo que servem as bibliotecas?
- Biblioteca Infanto-Juvenil Zalina Rolim, num passe de mágica político virou Casa de Cultura e Convívio da Vila Mariana: ora, desde quando biblioteca não é, justamente, casa de cultura e convívio com os melhores amigos dos homens, os livros?
- Biblioteca Infanto-Juvenil Cecília Meireles (a poeta deve estar se revirando na tumba), transformada em Centro de Memória e Convívio da Lapa.

Num país com mais de 40 milhões de analfabetos funcionais, o Kassab deve ter achado coerente fechar bibliotecas! No Brasil, temos apenas 4.800 bibliotecas para uma população de 170 milhões. Isso significa que há uma só biblioteca para cada 35.000 pessoas.
Pra entender melhor o que esses números representam, basta dizer que, na França, são 24.000 bibliotecas para 60 milhões de habitantes. Bem, por isso eles deram ao mundo Morin, Deleuze, Sartre, Foucault, Bachelard, Lyotard, Lévy, e... Podem acreditar, essa lista é imensa!
Para quem gosta de matemática, a proporção de bibliotecas no Brasil, em relação à França, é de 1/14 (7,01%). Essa conta também mostra outra discrepância: são 5.507 municípios no país, o que significa que tem muita gente sem acesso, a "galera dos sem-livro".

Kassab justificou a canetada afirmando que "não havia público" para essas bibliotecas. Ora, pra bom entendedor, um pingo é letra. Não tem público, pois toda retórica do projeto "São Paulo, um estado de leitores", criado no governo de Geraldo Alkmin, de quem Kassab era vice, não passou disso mesmo: retórica para justificar os gastos com propaganda institucional. Se o programa tivesse funcionado, não assistiríamos, agora, ao velório das bibliotecas!

Sandra R. S. Baldessin



8 comentários:

Jose Benedito Vizioli Liborio disse...

Pois é, caríssima. Aqui na minha aldeia o teatro fecha nas férias (!!!!!!) alegando-se necessidade de conservação e falta de público , como se eles fossem criados por crescimento vegetativo.
A população só entende uma boa administração com construção de pontes, asfaltamento e etc. Sem dizer que isso não seja importante mas as pessoas têm de começar a entender a importância da cultura que é, diga-se de passagem, não só leitura mas muitas coisas.
Quanto ao Kassab, esse "senhor" já chamou um trabalhador que protestava de vagabundo e o expulsou aos tapas de uma unidade de saúde, lembra-se? Será que esse brucutú, esse animal (sem ofender os bichos) sabe da importância da leitura para desenvolvimento pessoal? Sinceramente, duvido.
E é de pasmar que ele possa ser reeleito. Afe!
Beijos, Sandra. Desculpe o desabafo

sandra vacchi disse...

Que cara analfabeto!! Estúpido! Uma política de inquisição, como queimar os livros e não deixar as pessoas mais sábia! Olha isso me revolta muito!
Este ano temos a armar para modificar essa pessoa que é as eleições, vou comentar com meus alunos do 3º colegial para saber o que o partido dele está fazendo!
Beijos

Sandra Baldessin disse...

Então, Zé, o pior é que ele está bem cotado.
De modo geral, acho um absurdo bibliotecas, arquivos e museus que fecham as 17h, 18h. Ora, esses órgãos públicos têm que acompanhar as demandas relativas aos horários dos clientes. Imagina se funcionário de empresa privada reclama de fazer turno e trabalhar aos sábados, etc. Pagamos cada vez mais impostos e não obtemos qualidade de serviço. A população precisa acordar! A bela adormecida tá no prejuízo há 500 anos!

Sandra Baldessin disse...

Ótimo, Sandra, é exatamente isso que precisamos fazer: divulgar e execrar as patacoadas dessa gente.

Elo Ortiz disse...

Concordo com os julgamentos, mas alguém pode me esclarecer porque tantas bibliotecas não são frequentadas?
Já criei tres bibliotecas, uma no centro acadêmico da Escola de Engenharia no RGS, Porto Alegre, até se aposentar a bibliotecária falava de mim. Era bem frequentada, conseguia-se dinheiro para renovar, (a grande ajuda veio sempre do Brizola, que foi estudante nessa escola) eu ouvia dicas e comprava, não sei como está. Mas as outras feneceram. Porque ninguém lê??????
A globo no big brother ou merda que o valha promoveu uma desvalorização do livro nas palavras do herói Fernano. Foi o que eu li aqui no Muliply.
E a Globo tem editora, inclusive o Monteiro Lobato é título deles.
Parece orquestado, vai vr conseguiram método melhor que o farenheit 465 - nem se é esse o valor.

Sandra Baldessin disse...

Olha, que legal, eu não sabia desse fato: você, parteiro de bibliotecas! Parabéns.
A Globo não vende para o governo, o maior gerador de receita para as editoras, você sabe, não? O Estado compra livros (não vamos aqui falar das falcatruas relativas a esse tema) e envia para as escolas. Mas a incoerência é enorme, pois as escolas transformam as bibliotecas em salas de aula, para atender as demandas por mais e mais vagas, os livros ficam encaixotados, não chegam às mãos dos alunos.
Por isso, eu não acredito em "soluções de massa", "soluções globais", grandes programas que obtém resultados pífios. Acho que se os livros chegassem às mãos das crianças e adolescentes, haveria uma chance maior de formar leitores.
Recentemente, uma escola municipal, em SP, atirou na rua 400 livros, obras de Lorca, Guimarães Rosa, etc. Há várias denúncias de professores sobre o destino desses livros enviados pelo governo, alguns até "revendidos".
Depois, tentam nos convencer que, desde Roma até nossos dias, o povo só quer saber de pão e circo, digo, pão e BBB.

Nelson :-P disse...

E nas q ficam a tristeza nas estantes.
Panis et BBB.

Sandra Baldessin disse...

Tristesse...