segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Nauro Machado

Rating:★★★★★
Category:Books
Genre: Literature & Fiction
Author:A poética endógena de Nauro Machado
“Ser poeta é duro e dura
e consome toda
uma existência.”
Nauro Machado

Nesse quinto artigo da série Justiça Poética quero trazer à memória o nome do poeta maranhense Nauro Machado. Sua obra já foi analisada com brilhantismo pelo também poeta e ensaísta Ricardo Leão, portanto minha intenção é repassar impressões pessoais sobre a poética de Nauro, muito mais ligadas ao efeito que sua poesia produz em mim do que a teorizações literárias.
A poesia, em Nauro, não surge como o fluxo de inspiração irradiado de um poder divino (theia dunamis). Antes, suas entranhas são seu oráculo. Sua poética é endógena e, particularmente, impressiona-me o fato de que alguns poemas parecem surgir de uma auto-vivissecção, como se Nauro dissecasse as suas emoções, seus questionamentos sobre a vida, o ser e a linguagem, traduzindo-os em versos plenos de angústia: “Pode alguém perceber alguma coisa/ do que a vida vai sendo, inconsciente?”
Assim, parece-me que a poesia de Nauro padece da angústia de renomear o homem e a vida na esperança, que já nasce frustrada, de recuperar algo que se perdeu sem nunca ter existido: “Por que, então, brado aos céus deste infortúnio,/estou passado no presente que une/o meu futuro ao em mim perdido e morto?”
É preciso ressaltar, ainda, a musicalidade de Nauro Machado, a propriedade de bailar que seus versos possuem. Os poemas desenham imagens à moda dos gestos precisos de uma bailarina. É tudo tão denso, e ao mesmo tempo tão impalpável, que o leitor mais distraído corre o risco de ser lançado ao desenlace do poema antes de captá-lo em sua inteireza, percebê-lo em sua autenticidade orgânica.
Justiça seja feita: Nauro Machado representa o que de melhor há na poesia brasileira contemporânea, como tão bem expressam os versos de A rocha e a rosca: “ Em ser outro já decido/o que me faz de nenhum:pisar a dor do resíduo/no elemento mais comum,/negando-me ao indivíduo/no povo completo em um.”

Sugestão de Leitura:

Nau de Urano – Antologia de Sonetos. Ed. Siciliano 2002;
Melhores Poemas – Seleção de Hildeberto Barbosa Filho. Editora Global, 2005;
Pão maligno com miolo de rosas. Edição do autor, 2004;
A rocha e a rosca. Edição do autor, 2003.


Imagem: Escaneada de livro do autor.


7 comentários:

Adriana Costa disse...

Agradeço as recomendações. Eu já o vi na prateleira da biblioteca, mas nunca o li - será minha próxima vítima ;-)
@>--

Adair CJ disse...

ótimo Sandra.

Despudorada Alma Malmal disse...

procurarei ler, a amostra foi boa !!!!


bijo

Jose Benedito Vizioli Liborio disse...

Sugestão aceita! Com o seu aval, a leitura com certeza será maravilhosa!
Beijos!

sandra vacchi disse...

Gostei da dica! Não conhecia! E achei interessante!
Beijos

Sandra Baldessin disse...

Obrigada pelos comentários, queridos!
Besitos

Adriana Costa disse...

Já estou lendo "Antologia Poética" de Nauro Machado. 5 estrelas! ;-)